Semana das Comadres e dos Compadres


Fotografia: Pedro Sá | 2018
"As raparigas confeccionavam os bonecos de palha que vestiam com panejamentos de cores aguerridas encimando-o com um provocador chapéu: eram os “tristes dos compadres”. Os rapazes faziam bonecos igualmente de palha cobrindo-o com os trapos que apanhavam, sobrepondo-lhe um lenço multicolor, e designando-o por “a coitadinha da comadre”.
”Começavam as raparigas, nos dias que antecedem a penúltima quinta-feira antes do domingo gordo, a acicatar os rapazes, exibindo de longe o compadre, ora de uma janela ora do alto de uma borda, incentivando os do sexo masculino a vir apanhá-lo. Este é, desde o momento em que o compadre é exibido, o grande objectivo dos rapazes: deitar a mão ao compadre.
As raparigas tentavam tudo por tudo ocultar o seu paradeiro, escondendo-o o melhor possível. Os rapazes podiam então buscar o compadre procurando-o por toda a parte dando-lhe franqueado o acesso a toda e qualquer habitação aí podendo remexer todos os móveis e vasculhar todos os recantos ante a hilaridade das raparigas face ao insucesso dos moços. Mães e filhas solidarizavam-se e cumplicemente iam zelando para que o boneco não fosse encontrado. E os rapazes lá continuavam, espreitando pelos telhados, escutando atrás das portas ou tentando seduzir alguma moça mais incauta para que revele o segredo.
Alguns compadres descobriam-se outros não. Chegava-se então à quinta-feira antes do domingo gordo e eram os compadres “corridos”. As raparigas mais lestas agarravam e exibiam os compadres que os rapazes se apressavam em perseguir com grande alarde. Depois passavam-nos umas às outras enquanto os rapazes tentavam apanhá-los. Grande parte dos compadres caiam em poder dos rapazes enquanto outros eram mantidos na posse das raparigas. Velhos e novos envolviam-se nesta compita que a todos causava satisfação.
Na quinta-feira última antes do domingo gordo, chamada a “quinta-feira das comadres” eram estas corridas pelos rapazes que as exibiam provocando as raparigas que tentavam apanhar as comadres reféns.
Na terça-feira de Carnaval eram queimados os compadres e as comadres.”
Monografia de Cinfães, capítulo IX, pág. 109


“Primeira quinzena de Fevereiro, as raparigas, ao longo da semana, confeccionavam um compadre muito bonito com panos, papel, lã, balões, meias, etc.
Depois de feito, escondem-no dos rapazes. No Sábado, sai à rua para ser queimado. Um tiro ao ar e o desfile começa em grande algazarra. O compadre vai num carro de bois escoltado por raparigas armadas de varapaus, farinha e cinza contra os rapazes. Findo o cortejo, o compadre é queimado no alto da aldeia.
Raramente os moços conseguem desfeitear as moças, raptando-lhes o boneco. Na semana seguinte, é a queima da comadre pelos rapazes, processo igual. A barulheira, a cantoria e os apupos são da praxe."
Tradições populares II – António Cabral, 13. Comadres e Compadres, pág. 42

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