Usos e costumes

“Todas as manifestações de alegria e musicais do povo cinfanense eram durante as reuniões ou ajuntamentos, como as vindimas, as desfolhadas, a arriga, no regresso dos trabalhos agrícolas e durante a faina caseira.
Os Reis eram e são também quadra festiva.
A quadra carnavalesca vai desde o dia de S. Sebastião, 20 de Janeiro até terça-feira de entrudo.
Chegada esta quadra com ela surgem as diversões.
Antes já do Carnaval, os rapazes andam por todo o concelho, durante uma semana a «assobiar às comadres», munidos de um chifre de boi, por vezes cheio de água; sucede a esta semana a dos «compadres», em que as raparigas se desforram dos rapazes, surriando-se mutuamente e exibindo bonecos, que uns e outros pretendem agarrar, alguns dos quais acabam por ser queimados.
No começo de Maio, as portas e janelas embelezam-se com ramos floridos, amarelos, de giesta, as Maias.
Um mês mais tarde vem o S. João e o S. Pedro com as costumadas «travessuras».
Muitos e variados eram os costumes desta gente franca que se contentava com os «mimos» da sua lavra: a azeitona, a boroa e o verdasco, a carne de porco, o caldo de couves, as papas de farinha de milho, etc. que ainda hoje tem esses hábitos curiosos.
A matança do porco e a cozedura do pão eram outras tantas manifestações de alegria.
Todas as casas eram munidas de um forno apropriado para cozer o pão. No dia em que uma família se reparava para cozer a boroa era costume, principalmente na quadra invernosa, juntarem-se os vizinhos, até à meia-noite, os homens a jogar às cartas, as mulheres a cozer o pão e, nos intervalos, a manejar a roca e o fuso, saboreando todos, no final o pão fresco, o bolo quente e a sardinha assada no cimo do bolo.
Tinha fama a culinária usada em dias de festa: o saboroso arroz do forno, a carne assada e a sobremesa, rabanadas, formigos, aletria, a rosca de pão de trigo, o pão de ló, os rosquilhos, os matulos, etc.
Um outro costumo que desapareceu totalmente foi o de ir o maior número de paroquianos, um pelo menos de cada casa, a acompanhar o Sagrado Viático para a extrema-unção a ministrar a algum doente ou moribundo, quando ouviam tocar o sino para tal fim.
Na manhã de São João, antes de nascer o Sol, o povo tinha por grande virtude ir lavar a cara a uma fonte e beber, em jejum, água dela; nesse mesmo dia de S. João, também antes do nascer do Sol punham um ramo de castanho nos campos recentemente semeados; davam banho
às ovelhas nas poças ou nos ribeiros.

Em ocasiões de trovoada, para que esta se afastasse, queimava alecrim ou oliveira que tinha sido benzida em Domingo de Ramos ou acendia um toco (acha grossa) que, no Natal, na noite de consoada, já tivesse ardido em parte.”


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